Não queremos fazer gente capada
Gosto particularmente de D. Carlos Azevedo.
Não o conheço na intimidade, nem me sinto capacitado para confirmar a sua fama de excelente teólogo, mas é um homem de olhar franco e palavras claras, um daqueles típicos homens do norte.
Tive já oportunidade de lidar com ele de perto numa situação particularmente delicada; ele na sua missão de Bispo Auxiliar de Lisboa (responsável pela área das Vigararias do Termo Ocidental: Amadora, Cascais, Oeiras e Sintra) e eu, enquanto membro do Secretariado Permanente do Conselho Pastoral da minha paróquia.
Vem agora isto a propósito de declarações suas recentes sobre a polémica provocada pelas palavras do Papa na Universidade de Ratisbona, na Alemanha.
Segundo D. Carlos : “Acho que as pessoas são naturalmente violentas, quer sejam religiosas ou não religiosas. A agressividade e a sexualidade são as duas grandes energias do ser humano e existem em toda a gente; não queremos com a religião fazer gente capada e anestesiada.” E explicou também que as verdades não podem deixar de ser ditas, por muito duras que sejam as palavras e que, naturalmente, esta declaração tem de ser contextualizada, “sob pena de acontecer o que aconteceu ao Santo Padre com a citação do imperador Manuel II”.
“O homem possui naturalmente as energias da violência e da sexualidade, e Deus, que é um factor de harmonia, faz convergir essas energias para o bem”, disse D. Carlos Azevedo, sublinhando que “as energias não são boas nem más, podem é ser bem ou mal conduzidas”.
Independentemente de achar talvez pouco prudente a forma como o papa Bento XVI abordou a questão, embora num contexto muito específico e sem a intenção que os radicais pretendem fazer crer, não podemos pensar que resolvemos todos os problemas com paninhos quentes, só porque, perante qualquer pretexto, lá podem vir uns suicidas ou umas bombas (e perante isso não se questionam as bombas, mas as palavras, mesmo que descontextualizadas).
Não vou reproduzir agora todo o seu discurso sobre o tema, mas concordo absolutamente com a ideia de que “Nós não podemos ter receio de dizer que é mau espalhar a fé com a espada, até porque sabemos muito bem do que estamos a falar. A Igreja Católica também já cometeu esse erro, mas corrigiu-se, arrepiou caminho e até já pediu perdão [João Paulo II] pelos excessos cometidos na Idade Média e na Inquisição”, sublinhou o prelado.
Enquanto católico, não me sinto orgulhoso de muita coisa que os católicos fizeram ao longo de 2000 anos, principalmente, quando o faziam "em nome de Deus". Os facto de outros também o terem feito (porventura com menos publicidade) não diminui em nada a gravidade dos nossos "pecados". Sinto-me, no entanto que estamos no bom caminho se tivermos aprendido alguma coisa com a história, percebido os nossos desvios e que, acima de tudo, tenhamos pedido perdão por isso, como o fez de forma clara e formal João Paulo II. A propósito: que outros líderes religiosos já tiveram a humildade de o fazer?
António Neves
sexta-feira, setembro 29, 2006
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1 comentário:
Amigo,
no que se refere ao discurso do nosso Papa Bento XVI, achei que foram muito pouco refletidas as referências que fez, o que me leva a concluir que as pessoas muito inteligentes talvez tenham pouca sensibilidade para o que é mundano. Assim sendo, só me resta dizer que tenho saudades de João Paulo II por diversos motivos, e o factor "coração sensivel" é um deles.
Quando ouvi, através da comunicação social, as primeiras referências ao que aconteceu, saltou-me logo esta: "Meu Deus, eu não acredito que ele tenha dito isto, meu querido J.P.II, pede a Deus que lhe dê uma Luz!".
No entanto, e depois de analisar o acontecido, percebi que estavam a descontextualizar a citação e a fazer dela mais uma oportunidade para agredir, para diminuir a Igreja Católica e para levar o mundo católico a decepcionar-se ainda mais com a hierarquia da Igreja.
Confesso que não sinto uma grande empatia com Bento XVI, mas acredito que o Espirito Santo fez o seu trabalho aquando da sua eleição, e, por esse facto, respeito-o e amo-o como representante de Pedro, tão amado por Cristo.
Não me parecem assim tão necessários pedidos de desculpa, porque tal como tu, desconheço que algum outro lider religioso o tenha feito, o que revela decerto o nosso passo à frente no diálogo inter-religioso, mas achei correctas e coerentes as explicações que o Papa foi dando em relação ao que aconteceu.
Os católicos não são coitadinhos, nem devem ser amorfos e caladinhos, mas são, aliás somos, os embaixadores de Cristo no que se refere à humildade e à paz e se as atitudes, neste caso as palavras, foram mal interpretadas e, na minha opinião pouco reflectidas por ambas as partes, e podem provocar ainda mais conflitos (não esqueçamos que o Vaticano pode ser um local muito aprazível para extremistas), colocando em risco a vida de inocentes, só temos mais é que justificar e esclarecer os que por questões de cultura e de falta de oportunidade de abertura são racionalmente e psicologicamente diminuídos, para que assim contribuamos para a PAZ, ao fim ao cabo é essa a nossa missão, fazer a PAZ, AMAR e PROTEGER os fracos e inocentes.
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